Friday, March 5, 2010

Bye Bye Johnny, Bye Bye, Alfredo!!



Adolescente, em 1962, eu trabalhava num teleteatro semanal no programa “De Braços Abertos” na TV Continental. O programa era as quartas-feiras e depois eu ficava por lá pra assistir o programa de rock do Carlos Imperial, e geralmente rachava táxi com o Roberto Carlos para voltar para Copacabana. Roberto saltava na Av. Prado Jr. e eu seguia para a Rua Santa Clara onde morava.

Numa destas quartas conhecí la na tv o locutor que tinha talvez a voz mais bonita do Brasil, Paulo Santos. Paulo era famoso pelo seu programa “Em tempo de jazz” na Rádio MEC. E fui assistí-lo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, numa apresentação de “Pedro e o Lobo”, de Sergei Prokofiev composta para narrador e orquestra. O maestro Aaron Copland veio dos Estados Unidos para reger e Paulo Santos foi o narrador.

Ficamos amigos, eu era amarradão em jazz, e ele me dava verdadeiras aulas tocando faixas de sua enorme discoteca. Uma delas, “How High the Moon”, do LP “Ella in Berlin” com Ella Fitzgerald tornou-se uma das minhas favoritas de todos os tempos.

Apesar de estar apenas com 17 anos, meus pais já estavam acostumados que eu chegasse tarde em casa. Fazia teatro já há 4 anos e muitas vezes ia jantar com pessoal de teatro no “La Gondola” ou na “Fiorentina” que eram restaurantes da classe teatral. Copacabana era um bairro seguro.

Numa destas noites, fui com o Paulo Santos na boite “Bottle’s Bar” no Beco das Garrafas, que era o reduto da bossa nova e do jazz. Lá conhecí alguns dos melhores músicos e cantores que este país já teve, Johnny Alf, Silvinha Telles, Leny Andrade, Edson Machado, Tião Neto, Luiz Carlos Vinhas, Tenório Jr., Luizinho Eça, Bebeto, Chico Batera e tantos outros.

Passei a ser frequentador assíduo e quando tinha batida do juizado de menores, me escondia no ar refrigerado.A única pessoa próxima da minha idade de quem me lembro lá é o Antonio Bivar, que se tornou depois um autor teatral genial da “contracultura” brasileira dos anos 60. Mas o Bivar, um tanto mais velho que eu, já era maior de idade.

Fiquei amigo do pessoal, e quando eu chegava o Johnny Alf já atacava “Céu e Mar” que de suas muitas composições lindas era a minha favorita. Entre os seus sets entrava um rapaz que vinha de Niterói mandando um tremendo jazz no piano: Sergio Mendes. Johnny e eu batíamos longos papos sobre tudo. Quando não era o Johnny, era a maravilhosa Silvinha Telles, que me dava carona pra casa no fim da noite (ou no começo da manhã).

Virar noite não era incomum para mim nesta época. Lembro-me de um amanhacer na praia quando o Johhny escreveu numa revista a letra de sua canção “Ilusão atoa” com uma linda dedicatória para mim. Em inglês. Eu fazia IBEU e adorava praticar inglês. Ele também. A revista eu perdi, e a dedicatória esqueci. Mas não o sentimento.

Passaram-se os anos e eu só reencontrei o Johnny em São José do Rio Preto, creio que em 2001, quando fui para um IRContro com amigos de lá e ele estava fazendo um show. Depois do show relembramos tempos há muito passados e botamos uns papos em dia.
Lembro que ele ficou muito supreso por eu ter me tornado locutor esportivo, pois tinha me assistido em teatro.

Céu e mar, estrelas na areia
Verde mar, espelho do céu
Minha vida é uma ilha bem distante
Flutuando no oceano na aventura de viver

Céu e mar, estrelas na areia
Verde mar, espelho do céu
Meus desejos são estrelas pequeninhas
Rebrilhando de alegria por alguém que me quer bem

Geralmente o que a gente quer na vida
É preciso esperar pra acontecer
Felizmente a gente encontra alegria
No carinho e devoção de um bem querer

Céu e mar, estrelas na areia
Verde mar, espelho do céu
Minha vida, vou passando
Meu amor, eu vou amando
E meu barco vou levando a céu e mar


Alfredo José da Silva, que ficou famoso como Johnny Alf (nome adotado num programa do Paulo Santos) não levou seu barco ao mar. Mas certamente o levou para o céu com o seu dom musical que foi um presente... do céu.

R.I.P. Johnny.

1 comment:

Bruno Zanette said...

Amizades assim são sempre muito bonitas e verdadeiras. Certamente onde o Johnny estiver, estará em um lugar melhor torcendo por sua vitória e de seus amigos aqui na Terra.

Homenagens sinceras como essas não vemos todos os dias. Por isso devem ser destacadas!

Parabéns, Adler!

Abraços...